Wednesday, November 15, 2006

O Homem Errado

Claramente fazia essa distinção. As morenas nunca morderão sua orelha, Sr. Gagarin, pra quê então praticar balalaicas na lua? Ademais, a meninota loura alemã que brinca de casinha com você nesse exato momento tem ai-meu-bens graciosos ao dizer “minha mão está presa debaixo da sua perna”, aquelas bochechas vermelhuchas que parecem querer jorrar leite das vaquinhas catitas da Baviera. Assim, na sua cabeça, a vaca fazia Guten Tag! e as linhas verticais de seu quarto espirravam em seus olhos como os ossos de uma carcaça que misteriosamente emerge na superfície de um lago. “Deus, durmo num estábulo há vinte cinco anos e não sei!”. Sabe. Há vinte e cinco anos ele irremediavelmente escorrega nessas linhas dos estábulos, aquele tipo de artifício cômico de espetáculo que deixou de ser gracejo para um freudiano depois da queda da bolsa de Nova Iorque. Por todas as vias mentais, em seu pequeno estábulo, a fräuleinzinha rapidamente ganha acessórios visuais. Sobre a testa, despenca-lhe a silhueta de um chapéu; crepita uma pequena barba mal-feita no queixo; das pontas dos dedos saltam canos de revólveres, engatilhados. “Deus, estou dormindo com um bandido”. Bodas de prata, semana que vem.